sexta-feira, 26 de junho de 2015

Os três porquinhos




Estamos em Évora, dois porcos estão deitados à sombra de um chaparro a mastigar meia dúzia de boletas. Sobressaltados, vêem ao longe uma carrinha de transporte de animais, aproximar-se rapidamente, envolta num rastro de pó. Nisto, diz o porco rameloso: - Queres lá vêri que vamos ter companhia? Responde o porco malhado, cheio de curiosidade: - Será mesmo? Nunca vi esta fraguneta por estas bandas! A carrinha pára na porta da herdade, o dono dos porcos aproxima-se do motorista e trocam meia dúzia de palavras. Depois de tirar umas notas do bolso e de pagar ao motorista, a porta da carrinha é finalmente aberta. - Mã que raio de negociata foi aquela!?? Pergunta o reguila do rameloso. De repente sai do interior da carrinha uma linda, minúscula e rechonchuda porca com rimel nas pestanas, com um laçarote ao pescoço e um perfume inebriante a rosas. Diz o malhado com os olhos arregalados: - Vocemessê está vendo o mesmo que eu? Só pode ser mangação! Até estou assarapantado! Esta belezura já cá canta! Diz o rameloso enfadado: - Nã te armes em carapau de corrida que eu cá a vi primeiro! Diz o malhado estrambelhado: - Cã vença o melhor! E dito isso viram-se amuados de rabo um para o outro. O rameloso todo baboso, sem perder tempo, aproxima-se da porquinha cheio de salamaleques e pergunta-lhe com uma voz doce: - Atão a senhorita está cá de passeio? A porquinha numa língua estrangeira responde-lhe assim: - Hellô. My mane is miss dory. How are you ? O rameloso coça a cabeça e pensa para com as suas pintas: - Mã que raio de língua enrolada é esta? E diz com uma voz confiante: - Eu cá sou o rameloso e támos no Alentejo, Portugal. O dono dos porcos leva em seguida a porca inglesa para dentro da sua casa. E o malhado e o rameloso ficam ambos paralizados, enquanto a porta se fecha perante os seus olhares tristes. A porca mal saía de casa, era o animal de estimação da família da herdade. Apesar da vigilância constante dos dois porcos, nada da porca dory sair da residência. Até que um belo dia, a dory sai da casa com coleira e trela conduzida pelo filho do dono, o Tomás, que decidiu dar um passeio pelo monte para ver se a dory se adaptava ao novo ambiente. A um certo momento, o Tomás decidiu tirar a trela e deixar a porca correr livremente. O rameloso e o malhado aproveitaram a oportunidade para se aproximar da dory. E diz o sabichão do rameloso: - Atão amori! Nã queres vir chafurdar na lama? Ao qual a dory responde estupefacta: - What is lama? Diz o malhado: - Arregala essas pestanas, amori já te mostro! Os três correm juntos e felizes na mesma direção. E em pouco tempo ficam irreconhecíveis, os três mergulhados e enlameados numa enorme poça de lama. É então que chega o dono: - Mas que rebuliço é este!?? Andor! Já estou a ficar enchoriçado! Dory, desanda! A porquinha obedece ao dono rapidamente e dirigi-se cabisbaixa para a porta de entrada da casa. Ela largava lama por todo lado onde passava e marcava todo o pátio que circundava a residência. Depois de um bom banho perfumado, a dory voltou a ser novamente uma linda porquinha, enquanto o rameloso e o malhado tiveram que habituar-se a contemplar a nova amiga de longe.

Esta história está longe de acabar assim, se os pedidos forem muitos, quem sabe um dia aínda conto o final da história. Um ótimo fim-de-semana!

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