quinta-feira, 16 de abril de 2015

A ti Ermelinda



Eu não me canso de observar a ti Ermelinda, aquela mulher é mesmo do norte, carago! Ela levanta-se por volta das 6 da madrugada. Quando o galo canta, a ti Ermelinda já está de pé a estrelar os ovos, a cortar a chouriça ou o presunto acompanhado sempre de um pedaço de broa de milho e de uma caneca de vinho. O pequeno almoço dela é rural. Esta mulher não tem sossego, ela deita comida às galinhas, aos porcos e aos coelhos, ela lavra a terra, semeia, tira as ervas daninhas, sulfata, rega e colhe os produtos hortícolas para vender na feira. Depois lá vai ela com um braçado de couves para fazer o almoço. Sempre a traulitar a música do Tony de Matos, da mocidade perdida. Aqui há dias andou um ladrão a rondar-lhe a casa. Os vizinhos acharam suspeito aquele homem estranho e avisaram-na. Não queiram saber a reação dela de foice na mão, com os olhos vidrados, olha para o céu e em voz alta exclama:- "Venha lá esse cabrão da merda roubar-me que eu cá estou à espera dele para lhe partir o focinho com esta foice! Nem vai saber de que terra é!" Eu não duvido que a ti Ermelinda lhe faça a "folha". Ela tem a força de um homem. Tem "pelo na benta" como se diz por estas bandas! É uma mulher alta, corpulenta, muito morena, queimada pelo sol de tanto trabalhar no campo, sempre de saia cumprida e usa religiosamente um lenço florido enrolado na cabeça. É possuidora de uma beleza simples, mas quando está de mau feitio assusta qualquer mortal! Não sei ao certo o que se passou, mas a ti Ermelinda quando se pergunta pelo ladrão, fica com um sorrisinho matreiro, o olhar brilhante e diz cheia de orgulhoso: - Não te preocupes que eu já despachei essa encomenda!! Esta ti Ermelinda...! eh eh eh!

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