sexta-feira, 10 de junho de 2016

O cão abandonado

- Mas que bela spaghetti com almôndegas! Estou com estômago colado às costas! Resmunga o rafeiro com o nariz colado ao vidro do restaurante italiano. Há dias que o cão errante não se alimenta. Bebe em poças de água e suspira por dias melhores. A sua barriga ronca de fome e já não tem mais energia para continuar. O rafeiro contorna o restaurante em busca da porta das traseiras onde fica a cozinha. Quando lá chega, fica sentado em frente à porta. O cheirinho a comida é de lamber os beiços e o cão está atento a qualquer movimento. Até que a porta se abre e na soleira da porta aparece o cozinheiro, um homem dos seus quarenta anos, bastante obeso e com ar de poucos amigos. Carrega um grande saco do lixo para colocar no contentor. Ao deparar-se com o animal maltratado, com um ar assustado e faminto diz o cozinheiro :- Sai da frente, pulguento! Ou queres levar com a vassoura! O animal foge assustado. No ar rompe um forte e assustador trovão. O rafeiro cabisbaixo continua o seu caminho e as lágrimas caem-lhe dos olhinhos tristes. Ao mesmo tempo que a chuva começa a cair torrencialmente, ele desespera-se e desaba no chão sem forças para continuar. O final está perto, encharcado, esfomeado, no limiar das forças ele sente que a vida se esvai num ápice. Não tem mais esperança e nada mais o prende à vida. Fica inerte, à chuva e acaba por perder os sentidos.
Finalmente, passado vários dias, o cão abre os olhos, mas fecha-os imediatamente, porque um raio de luz lhe fere os olhos impedindo-o de enxergar. Eu morri, devo estar no Céu dos cães! Diz o rafeiro conformado. Quando se habitua à forte luz, abre novamente os olhinhos e vê uma linda menina, loira de olhos azuis que o observa sorridente. Mas que bonito anjinho veio receber-me! Afirma o cão estupefacto - Mãe, ele abriu os olhos! diz a linda criança com o cabelo encaracolado que corre esfuziante para os braços da mãe. A mulher aproxima-se do pobre animal, com os olhos cheios de ternura e uma voz doce exclama:- Bem-vindo à vida, querido. 
O nosso amigo foi recolhido pela bondosa veterinária da cidade que passou, por sorte na rua onde o cão estava desmaiado. Com pena do animal levou-o para casa e tratou dele. O animal passou vários dias a lutar pela vida. Felizmente, a febre cedeu e o cão foi salvo. Depois de algumas semanas a alimentar-se bem e a usufruir dos carinhos e mimos da abençoada família que o acolheu, o cão engordou e o pelo ficou super brilhante. Mas era o brilho no seu olhar que espelhava toda a felicidade que tomou conta do animal. Já não restava vestígios daquele cão errante, esfomeado e sem esperança que vivia ao abandono pelas ruas da cidade. O amor é capaz de operar verdadeiros milagres!

Quantos animais podiam ser salvos das ruas se almas bondosas e generosas fossem capazes de gestos semelhantes!?? Muitos por certo... aconselho a reflexão. Nunca é tarde para fazer a diferença. 

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